Recordo dos natais de minha infância, com todos os aromas, surpresas e o delicioso frio na barriga, que antecedia a comemoração do aniversário de Jesus. Lembro-me do ritual de preparação para a ceia natalina. Toda casa era examinada e qualquer vestígio de poeira era cuidadosamente eliminado. Os tapetes eram lavados, e nós, as crianças da casa, ficávamos ansiosos esperando pelo presente. Na véspera do dia de natal, meu pai saía de casa logo cedinho, incumbido de completar as compras para a ceia. Minha mãe cozinhava batatas, cenouras, cortava frutas, para uma grande travessa de salada. Uma toalha repleta com raminhos vermelhos era disposta sobre a grande mesa de madeira. Uma infeliz ave era abatida no quintal. Naquela festa destinada à celebração do nascimento de Cristo também havia dor, provando que mesmo na intenção divina, ainda assim, cultivamos nossa humanidade com requintes de crueldade. Cuidadosamente minha mãe preparava o doce de minha preferência, o bolo em camadas. Como se estivesse hipnotizada, ficava observando aquela sobremesa recheada com doce de leite, goiaba e suspiros. Hoje sei, que minha mãe fingia não perceber, minhas mãos nervosas deslizando pela borda daquela delícia sedutora. Tudo era mágico e a espera pelo presente angustiante. À noite, antes da ceia, fazíamos uma oração, onde meu pai falava um pouco sobre Jesus e agradecia todas as bênçãos derramadas sobre nossa família. Depois uma coisa estranha acontecia. Uma felicidade encharcava meu coração e eu via uma linda estrela colorida entrar pela janela e sentar ao lado da grande árvore enfeitada. Naquele momento eu sabia, que a grande comemoração havia começado. Era Jesus, o mestre extraordinário, seduzindo minha mente e coração. Embevecida com a linda imagem, muito longe ouvia a voz de meu pai concluindo"Que Jesus seja um natal constante em nossas vidas".