Pimenta Alecrim Palavra - Sonia Guzzi

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um dia encantado

O sol quente correu apressado assim que abri a porta de casa. Sentou-se no meio da sala, espalhando seus dedos pelas cortinas, almofadas e ainda num arroubo de atrevimento esgueirou-se pelas cadeiras. Naquele momento era tirano absoluto. Felizmente meu bom humor riu-se daquela invasão, e preferiu buscar a bebida quentinha na cozinha, onde o aroma de ervas  já se espalhava convidando ao preparo do almoço.
Nem mesmo havia terminado de saborear o café, quando o pássaro Timóteo assoviou, bem ao lado do manjerição dependurado no parapeito da janela. Estiquei as mãos, onde ele imediatamente pulou com jeito  ressabiado e traquina. Ele realmente é muito gracioso e arteiro. Gosta de provocar.
Uma paz pulsante, como um grande respiro de Deus, abraçou o meu lar. Fiquei quieta, com receio de perder aquele momento.
No quarto dos meus filhos, os quais, hoje  adultos, independentes e moradores de outras casas, um burburinho fez-se ouvir. Eram as brincadeiras de suas infâncias. Entre palhaços, trem da alegria, brinquedo Atare, minhas crianças desfilavam seus olhinhos risonhos e joelhos ralados. No quarto do outro lado do corredor, que era onde meus pais ficavam quando nos visitavam, ouvi um leve ruído, e curiosa,  rapidamente desci os dois degraus que o separa da cozinha. Surpresa e feliz revi os meus primeiros amores,  confidenciando uma convivência de sessenta anos. Depois, na escrivaninha antiga, com perfume de meus antepassados, percebi meu marido absorto, entregue aos cuidados com a poupança desejada, que poderia custear os estudos dos nossos filhos. Revi uma jovem mãe, correndo entre o trabalho remunerado, os cuidados com o lar, a vigilância com os filhos, o medo com a doença dos pais...
Nesse dia percebi muitas coisas. Muitos abraços perdidos, carinho adiado, palavra esquecida. Mas, em meio a tudo isso, pude ver muitos corações se enroscando, vitalizando, investindo fé e compaixão, tornando muitas vezes o testemunho individual suportável e comovente.  Corações que muitas vezes se transformaram, esquecendo a própria dor, para acolher, confortar, inflar coragem.
Foi  neste pequeno núcleo, que desafiadoramente, juntos aprendemos como caminhar neste mundo, onde cada dia é um belo presente de Deus. Sabendo  que o nosso universo pessoal é repleto de possibilidades  e que em cada decisão reside uma conquista, que poderá nos esvaziar ou colorir o espírito de luz, esperança e sentido.

Sonia Guzzi


Sonia Guzzi