Pimenta Alecrim Palavra - Sonia Guzzi

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Minha dor

Minha Dor II


Minha dor não tem som nem gesto,
segue com seu rastro pegajoso,
discreta lesma laboriosa,
e sob o sol quente e claro,
vai juntando da terra os gritos,
o sofrimento, sangue e pranto.

Minha dor sem motim ou alarde,
deita seu alento no colo débil,
de uma noite que já estremece,
desliza sem ruído nas madrugadas,
enlutada espoca silenciosa,
 no subterrâneo dos lamentos,
ferida e exausta entrega à terra,
a crueldade, o sal e a água.


Sonia Guzzi

 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Selinho


Recebi este selinho da amiga Neil, do blog http://nellsantos.blogspot.com/, em tempos idos.
Fiquei tentando posta-lo de um outro jeito e não consegui, apesar de desconfigurar o blog.
Vocês viram o blog de ponta cabeça, e bem no meio dele uma boca enorme ...sorrindo?
Não era o lobo mau...era a boca desta limitada criatura. Até agora, não sei como ela saiu da foto e foi parar ali.
Depois da explicação, quanto a demora da postagem, quero agradecer muitíssimo o gesto de amizade, da amiga poetisa e blogueira.
Sei que existe um protocolo quanto ao selo, mas, quero pedir permissão para oferece-lo à todos  queridos amigos visitantes. Tudo bem Nell?...por favor, diga que sim. rss
Bjs, linda.
Gde abraço a todos, em divina amizade.
Sonia Guzzi


domingo, 2 de outubro de 2011

Luto



Morreu seu Juca da banca de revistas.

Hoje o pequeno quiosque de notícias está fechado.

Enroscada entre dois pilares, uma única faixa preta sem pudor ou reserva diz: "luto, seu Juca morreu.”

Ignorando a manhã que acordou silenciosa na pequena cidade, seu Juca partiu.

Deixou o cão três patas, que em virtude de um atropelamento recebeu o apelido e acolhido e tratado pelo homem compassivo, a ele ficou afeiçoado. Agora ali, deitado perto do banco de cimento ao lado do pequeno quiosque, seus olhos manchados com uma sombra de dor, alcança quem se aproxima, produzindo no peito uma leve fisgada de saudade.

Morreu seu Juca da banca de revistas.

No balcão perto da caixa registradora, dentro de um diminuto recipiente de acrílico ficou a gravura de uma folha de bordo vermelho, pois o homem sonhador esperava um dia conhecer o Canadá, e aquela lembrança, inspirava seus dias de possibilidades e esperança.

Ficou também a intenção de um filho desejado, perdido entre rusgas cotidianas, beijos apressados, compras adiadas e sonhos desistentes. Deixou entre dias passados também seus segredos, que assim sendo, deverão permanecer, enroscados num tempo sorrateiro, disfarçado entre sois e luas.

Ficou a rua da praça com seus carros apressados, passos conhecidos e sorrisos matinais.

Ficou também a viúva Leonor, enlutada de choro e mágoa, mas, se me permite uma irresistível indiscrição, seus olhos molhados já escorregam esperançosos em outra direção.

Ficou também a perplexidade dos amigos, a desolação de três patas e também uma chuva fina caindo mansamente durante todo o cortejo, na despedida do vendedor de palavras.

Naquela tarde triste, a terra acolheu seu Juca e a história de um homem bom.

E depois... a noite encobriu o dia...